segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Leopoldo Fróes fora do prumo

Leopoldo Fróes
    No canto nordeste da Praça Saldanha Marinho, em Santa Maria, há um monumento em homenagem a Leopodo Froés, voltado para o Theatro Treze de Maio.
    O monumento, datado de 10 de dezembro de 1968, foi erguido por iniciativa da Escola de Teatro Leopoldo Fróes, quando comemorava o seu 25º aniversário de fundação, homenageando seu patrono.
    A Escola de Teatro foi idealizada por Edmundo Cardoso, que a fundou, em 1943, com outros atores amadores e pessoas aficionadas às artes cênicas.
    A instituição tomou o nome de Leopoldo Fróes, em homenagem e reconhecimento ao ator brasileiro considerado de maior expressão, nas primeiras décadas do século XX. Leopoldo Constantino Fróes da Cruz (Niterói/RJ, 1882– Davos/Suíça, 1932) foi ator, teatrólogo, compositor, letrista e cantor brasileiro.1
Edmundo Cardoso
Além de fundador, Edmundo Cardoso foi diretor e ator, desenvolvendo intensa atividade teatral, durante 40 anos. A Escola de Teatro Leopoldo Fróes estreou, em Santa Maria, em 24.4.1944, com a comédia Deus lhe pague, de Joracy Camargo. Em sua bem-sucedida trajetória, realizou muitas apresentações nos palcos locais e algumas vezes em Porto Alegre e cidades do interior, bem como em São Paulo e Santa Catarina.
    Quando comemorou seu jubileu de prata, em 1968, a Escola de Teatro Leopoldo Fróes já havia conquistado vários prêmios, divulgando a atividade cultural santa-mariense, em âmbito teatral.2
    Para marcar o importante acontecimento, os dirigentes da Escola de Teatro Leopoldo Fróes encomendaram ao escultor Hermenegildo Marotto, caxiense radicado em Santa Maria, um monumento em granito e bronze, com a herma do patrono. O monumento foi doado pelo empresário Salvador Isaia.


    Após 45 anos, a obra apresenta-se acentuadamente inclinada, estando em risco a sua estabilidade.
    Dano semelhante já ocorrera com o monumento ao Coronel Niederauer, o mais antigo e um dos mais valiosos da cidade, quando, em 1989, a raiz iconoclasta de um Pinus elliotti, indevidamente plantado a curta distância,  produzia progressiva inclinação da herma. Três anos depois, o monumento foi restaurado, graças às medidas efetivas tomadas pelo Eng. Júlio Rasquin, então Secretário de Planejamento, em atendimento às solicitações realizadas por mim e por Antonio Isaia.3
    A história se repete, agora desaprumando perigosamente o monumento a Leopoldo Fróes, que talvez sofra a ação demolidora da raiz iconoclasta de um jacarandá-mimoso (Jacaranda mimosifolia, D. Don) 4 que lhe fica atrás, a cerca de um metro de distância.

    De crescimento rápido, certamente foi indevidamente plantada muito próxima ao monumento após sua instalação, há 45 anos. Essa bela árvore ornamental, de exuberante floração azul, é a mesma que enche de cor a Praça da Alfândega e ruas de Porto Alegre, por toda a primavera. 
Floração do jacarandá-mimoso
foto Francisco Manuel Carrajola Oliveira
    Embora considerada de raízes não agressivas, pode levantar calçamentos e abalar muros, como deve estar fazendo com o monumento.
    Certamente o jacarandá-mimoso  de forma alguma deverá ser retirado. Há solução tecnicamente simples para a restauração do monumento, garantindo sua estabilidade e preservando a bela espécie.
    Que o ilustre ator brasileiro, a importante Escola de Teatro Leopoldo Fróes, que o homenageou, e o generoso mecenato de Salvador Isaia sejam respeitados e reconhecidos em seus valores com a necessária e urgente restauração do monumento, por parte da municipalidade, à qual cabe a preservação dos bens culturais públicos.
    E que o ornamental jacarandá-mimoso tenha vida longa, cumprindo sua função de embelezar e sombrear nossa praça central.


3  BRENNER, José Antonio. A restauração do monumento a Niederauer, A Razão, Santa Maria, 5.10.1991.
4  Identificação da espécie pelo Prof. José Newton Cardoso Marchiori.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

SOCEPE - Fundada em 28 de outubro de 1866

   Em recente sessão de assembleia geral, realizada em 29.7.2013, a Sociedade Concórdia Caça e Pesca-Socepe aprovou o dia de sua antiga fundação, em 28.10.1866, como data de seu aniversário.
   Fui convidado pelo presidente, João Carlos Provensi, e pelo 1º vice-presidente e patrono, Horst Oscar Lippold, para apresentar, na assembleia, a justificativa para essa proposta.
Horst Oscar Lippold, patrono da Socepe, na festa em sua homenagem, em 6.12.2012, com o presidente João Carlos Provensi. [foto de Germano Rorato]

   Resumi a história da fundação do Deutscher Hilfsverein de Santa Maria, origem da sociedade, e destaquei a importância de honrarmos essa memória e nos orgulharmos de ser a Socepe o mais antigo clube de Santa Maria e um dos mais antigos do Estado.
   Lembrei que a Sociedade de Ginástica Porto Alegre-Sogipa, mesmo tendo realizado fusão, mudado de nome e de atividades, ostenta com orgulho em seu emblema e acrescenta em seu título a data de sua fundação como Deutscher Turnverein, em 1867, um ano depois que a Socepe.
   Num domingo de primavera, em 28 de outubro de 1866, foi fundado o Deutscher Hilfsverein de Santa Maria, significando associação alemã de assistência. Tinha por objetivo amparar os alemães que chegavam à vila, numa época em que Santa Maria era intensamente procurada por migrantes vindos da Europa e das antigas colônias alemãs. Tal migração ocorria em razão da hegemonia que os germânicos alcançaram no comércio e na produção, durante as décadas anteriores, na vila santa-mariense.
Otto Brinckmann, 1º presidente, em 1866.
Foto extraída da Revista
do Centenário de Santa Maria
, 1914.
   Naquele domingo, 18 alemães e descendentes reuniram-se na casa do agrimensor Carl Ferdinand Otto Brinckmann, para fundar o Deutscher Huilfsverein. Brinckmann chegara ao Brasil 15 anos antes, como capitão de artilharia do exército da Prússia. Portanto um Brummer, contratado pelo governo imperial brasileiro para a Guerra contra Rosas e Oribe, em 1851.
   Sua residência era um casarão com cerca de 18 metros de frente, na Rua do Comércio, hoje segunda quadra da Rua Dr. Bozano, onde está o Edifício Block nº 1058.
   Na reunião de fundação, foi eleita a diretoria: Otto Brinckmann, presidente; Franz Weinmann, vice-presidente; Wilhelm Fischer, secretário; Peter Cassel, tesoureiro; e os diretores Nicolaus Ehlers, Jacob Krebs, Philipp Jakob Schirmer e Jacob Maurer, todos naturais de estados alemães. Os demais fundadores foram Abraham Cassel, Augusto Morsbach, Carlos Lampert, Johann Heinrich Druck, Heinrich Friedrich Eggers, Miguel Adamy, Nicolau Becker, Peter Brenner, Pedro Weinmann e Theodoro Weber. Esses 18 nomes foram citados como fundadores quando a sociedade comemorou seus 70 anos, em 1936. [1] Eles também são citados por João Belém,[2] que acrescenta mais 53 nomes como fundadores, supostamente colhidos no primeiro livro de registros da sociedade, fonte primária lamentavelmente desaparecida. Talvez sejam aqueles que aderiram à iniciativa, após a reunião de fundação.

Primeira diretoria, em 1866.
Franz Weinmann, vice-presidente, e Wilhelm Fischer, secretário.

Peter Cassel, tesoureiro, e Philipp Jakob Schirmer, diretor.
 Meio século depois, visando a obter personalidade jurídica para adquirir direitos e contrair obrigações, os estatutos escritos em alemão foram traduzidos para o português. Assim, em 1916, o Deutscher Hilfsverein de Santa Maria foi denominado, na tradução, Sociedade Beneficente Alemã de Santa Maria da Boca do Monte. Entretanto, continuou a usar sua denominação alemã, inclusive em publicações na imprensa, como se vê no convite para uma quermesse, em 1937, em benefício do Colégio Brasileiro-Alemão, mantido pelo Hilfsverein.[3] Nessa época, a sociedade já tinha sua sede, na Rua Venâncio Aires, inaugurada em 1932.
Convite em A Razão, sábado, 22.5.1937.  Deutscher Hilfsverein promove festival em benefício do Colégio Brasileiro-Alemão.
   Vários meses antes da declaração de guerra à Alemanha, em agosto de 1942, o nome fora mudado para Sociedade Concórdia, como consta em notícia no jornal A Razão, em fevereiro daquele ano, sobre o fechamento, em Santa Maria, de seis sociedades de matriz cultural alemã, italiana, libanesa e judaica. Concórdia - acordo, paz, harmonia de vontades e de opiniões - foi a denominação adotada, na Primeira e na Segunda Guerras Mundiais, por várias outras sociedades alemãs, no país.
   Em 7 de julho de 1966, 100 anos após a fundação, foi efetuada a fusão da Sociedade Concórdia com o Clube de Caça e Pesca, quando Horst Oscar Lippold era o presidente de ambas as associações. Foi, então, adotada a denominação Sociedade Concórdia Caça e Pesca, o grande clube que hoje conhecemos pela sigla SOCEPE, com sede central no mesmo antigo endereço da Rua Venâncio Aires e sede campestre em Itaara. Lippold foi o primeiro presidente desta moderna fase da Sociedade, cargo que também ocupou em diversas gestões, sendo atualmente patrono e 1º vice-presidente. 
    Algumas sociedades, em atividade no Estado, são mais antigas, como a Sociedade Germânia, de Porto Alegre (23.6.1855), a  Sociedade Orpheu de São Leopoldo (20.1.1858) e o Clube União de Santa Cruz (10.4.1866), apenas seis meses anterior à Socepe. Entretanto o Clube União absorveu, em 1868, a Schützengilde, fundada em 1863, em Santa Cruz. As sociedades mais antigas do Estado foram fundadas por imigrantes alemães e descendentes, em razão de seu forte espírito de associativismo.
    Assim, a Socepe é uma das mais antigas sociedades do R. G. do Sul e, sem dúvida, pode se orgulhar de ser a mais antiga de Santa Maria, devendo ostentar em seu emblema o ano de sua fundação histórica.

    Poderá, então, comemorar, no próximo dia 28 de outubro de 2013, os seus 147 anos de fundação.



[1] Diario do Interior, terça-feira, 1.12.1936 - 1ª p. - Arquivo Histórico Municipal de S. Maria.
[2] BELÉM, João. História do Município de Santa Maria, 3. ed. Santa Maria: Ed. da UFSM, 2000.
[3] A Razão, Santa Maria, sábado, 22.5.1937, 1ª p. - Arq. Histórico Municipal de S. Maria.