domingo, 21 de dezembro de 2014

Uma foto histórica - autor: Bortolo Achutti

Em 30 de junho de 1985, o Centro de Tecnologia da UFSM completou 25 anos de fundação. Organizei, na época, uma exposição comemorativa, no saguão de Centro de Tecnologia, com fotos, documentos e instrumentos.
A coleta de documentos e, principalmente, de fotografias exigiu uma laboriosa busca em vários setores da Universidade.
Uma das fotos expostas tem grande valor histórico para o Centro de Tecnologia e para a UFSM.
Não sei em que dia foi tomada, mas eu a denominei

O “Dia do sim”
No ano de 1958, o Prof. José Mariano da Rocha Filho, então presidente da ASPES-Associação Santa-Mariense Pró-Ensino Superior, insistentemente solicitou a Evaldo Behr a doação de uma área em Camobi para a instalação do projeto urbanístico do Centro Politécnico de Santa Maria, origem do atual Centro de Tecnologia. Essa instituição comporia o setor tecnológico da universidade que o Prof. Mariano sonhava criar.
Evaldo Behr, além de ele próprio, representava seu sogro, Alfredo Tonetto, seu cunhado, Arlindo Tonetto, e seu irmão Edmar Behr, todos proprietários, em área ideal, de terras em Camobi, correspondentes hoje a boa parte do campus da UFSM.
Jan./fev.1959 - Evaldo Behr (E) mostra ao Dep. Tarso Dutra e ao Prof. Mariano da Rocha o início da área a ser doada à ASPES para o Centro Politécnico de Santa Maria, embrião do atual campus da UFSM. Foto: Bortolo Achutti

Passado algum tempo, Evaldo Behr convenceu os demais coproprietários a realizarem a doação. Como ele próprio me disse, em entrevista, estava com seu irmão empreendendo loteamentos e previa que o Centro Politécnico, na área a ser doada, resultaria em considerável valorização de suas terras, então distantes cerca de 900 metros da rodovia, porque se tornariam lindeiras da nova instituição de ensino superior.
O deputado federal Tarso Dutra, amigo e compadre do Prof. Mariano, já havia obtido dotações orçamentárias para iniciar as obras do Centro Politécnico, para o qual ainda não havia uma área e, obviamente, projeto.
Num dia de verão, entre janeiro e fevereiro de 1959, Mariano da Rocha e Tarso Dutra visitaram Evaldo Behr em sua casa de Camobi, junto a uma piscina comunitária. Sentados na varanda da casa, compartilhando o chimarrão, Behr comunicou aos visitantes que ele e os demais proprietários concordavam em fazer a doação, desde que a área fosse por ele demarcada.
Levantaram-se então, levando chaleira e cuia, e andaram cento e poucos metros até uma posição nas proximidades do atual pórtico de entrada do campus. Evaldo Behr descreveu então uma área, a partir daquele local, na direção sul, em forma de “L”, que o posterior levantamento topográfico revelou ter 36,68 hectares. O ramo maior corresponde hoje à Av. Roraima e seu entorno de edificações, em ambos os lados.

Intrigava-me o fato de a imagem daquele decisivo momento ter sido perpetuada em uma fotografia. Em entrevista a mim concedida pelo Prof. Mariano, em sua residência, quando eu buscava dados para o Histórico do Centro de Tecnologia, publicado em 1990, perguntei-lhe como isso ocorrera. Ele disse que, por telefone, fora informado por Behr da possibilidade da doação. Dirigiu-se então a Camobi, acompanhado de Tarso Dutra e Bortolo Achutti, fotógrafo lotado no Curso de Medicina, então vinculado à UFRGS.
30.7.1959 - Arquiteto Oscar Valdetaro, da Fomisa/RJ, expõe a Mariano da Rocha e a Evaldo Behr sua  primeira concepção de projeto. A avenida principal na divisa oeste, serviria também às terras dos doadores. Os dois blocos de edifícios visíveis tinham a orientação solar correta: Norte-sul. Foto possiv. de Bortolo Achutti

Muitas outras fotos da época, referentes às ações da ASPES e aos cursos de Medicina e de Farmácia, devem ser de autoria de Bortolo Achutti, sem terem o crédito registrado.
Quanto à foto do “Dia do sim” não há dúvida, foi tirada por Achutti porque isso foi declarado pelo Prof. José Mariano da Rocha Filho.
A foto registra o momento histórico em que foi concedida a doação da área destinada ao Centro Politécnico de Santa Maria, quase um ano antes de ser criada a UFSM. Com seus 36,68 hectares, foi o embrião dos cerca de 1.800 hectares do atual campus, no Bairro Camobi.
Foto da maquete do Centro Politécnico, datada de 10.9.1959. O prédio "g" é o atual Centro de Tecnologia e o prédio "h" destinava-se ao Instituto de Arquitetura e Urbanismo, área de conhecimento que somente em 1992 foi instalada na UFSM. 

Bortolo Achutti
Nascido em Santa Maria, RS, em 28 de outubro de 1898, Bortolo Achutti era filho de Antonio Mansur Achutti, imigrante libanês, e de Magdalena Miolo Borin, imigrante italiana.
Apaixonado pela arte e técnica fotográfica, desde muito jovem ele começou a fotografar, realizando todos os procedimentos em seu próprio laboratório, ainda na casa de seus pais.
Bortolo Achutti - Recorte de foto com a
família, em meados da década de 1950.
Durante muitos anos, dedicou-se à farmácia, exercendo suas habilidades como laboratorista. Prestou prova de suficiência em Porto Alegre, sendo licenciado como farmacêutico prático.
Bortolo Achutti foi admitido, em 11.2.1953, como laboratorista, na Faculdade de Farmácia de Santa Maria, depois lotado no Curso de Medicina de Santa Maria, ambos então vinculados à UFRGS.
Desde os primórdios da UFSM e nas ações anteriores à sua criação, exerceu atividade como fotógrafo, registrando os eventos mais importantes da instituição. Também preparou material didático como diapositivos e colaborou em trabalhos científicos com ilustrações (micrografias e fotografias).
Foi membro da Comissão de Publicidade e fotógrafo-chefe do Departamento de Fotografia.
  No 12º aniversário da UFSM (1972), Bortolo Achutti recebeu a Medalha do Mérito Universitário, outorgada a professores e técnicos por suas contribuições à Instituição.
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Fontes:
Acervo pessoal
ACHUTTI, Aloyzio. Histórias que meu pai contava
BRENNER, José Antonio. Cursos de Engenharia do Centro de Tecnologia – Histórico resumido, In: Revista do Centro de Tecnologia-UFSM, vol. 13, nº 2, 1990.
http://www.cechella.com.br/luiza.htm

sábado, 6 de dezembro de 2014

Ennio Brenner – campeão

No ano de 1933, fatos importantes ocorreram no Avenida Tênis Clube. Houve a eleição da primeira rainha, foi composto o hino, realizado um festival beneficente e lançado o A.T.C., o primeiro jornal do clube. Na metade do ano, meu pai, Ennio Brenner, tornou-se campeão de tênis do A.T.C..
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   Meu pai, Ennio Brenner, era um apaixonado pelo tênis.
   Nascido em Santa Maria, em 18.3.1907, ele se associou ao Avenida Tênis Clube no início de 1926, quando ingressou em seu primeiro emprego, no Banco Pelotense, agência de Santa Maria.
Ennio aos 18 anos, quando
se associou ao A.T.C.
   Ainda não havia completado 19 anos, quando foi eleito 1º tesoureiro, em 14.3.1926, na diretoria sob a presidência de João Appel Lenz. Participou da gestão seguinte do clube (1927-28) como 1º secretário.
   O A.T.C. tinha sua sede na Praça do Mercado, atual Saturnino de Brito, onde Ennio encontrou Maria Luiza Brenner, sócia ateceana desde 1922, com quem se casou em 1930. Não eram parentes, ela pertencia a outra família Brenner de Santa Maria. Os genearcas de ambas as famílias vieram, em diferentes épocas, do Principado de Birkenfeld/Hunsrück. Minhas pesquisas genealógicas revelaram, porém, que houve um ancestral comum, no século XVII.


Maria Luiza Brenner, a caminho da
quadra de tênis da Villa Etelvina ~1922 
   Como a maioria das jovens ateceanas, Maria Luiza jogava por diversão, mas disputava o campeonato permanente, na 3ª divisão feminina. Jogava também na quadra de tênis da Villa Etelvina, no Pinhal (hoje Itaara), propriedade de sua tia Etelvina Brenner Ramos.

   O A.T.C. competia com clubes de várias cidades do interior, em torneios amistosos. Em 20 de setembro de 1927, quando jogou contra o Tênis Clube Santa Cruz, considerado o mais forte do interior, o A.T.C. venceu 5 dos 6 jogos disputados. Destacaram-se o então campeão Lamartine Souza  e Ennio Brenner que venceu o norte-americano Joe Harris por 6x2 e 6x3. Notícia no Diario do Interior comentou:

   Em pouco tempo, Ennio Brenner tornou-se vice-campeão ao vencer João Appel Lenz, no campeonato interno do A.T.C., em 1928.
   O jornal A.T.C., na edição nº 12, de 12.6.1934, inaugura com Ennio Brenner a seção Nossa gente... assinada por “Nícia”, um pseudônimo.
   Eis dois trechos:

   Se a cronista do tênis tivesse esperado mais um mês, poderia ter escrito que Ennio tornara-se o campeão do Avenida Tênis Clube.
  
Ennio, na inauguração do Brasil
Tênis Clube, de S. Gabriel, 23.4.1933.
Ao fundo, a Igreja S. José
 Campeão
   Foi no dia 9 de julho de 1933, um domingo invernal de frio intenso e sob gélido vento minuano, que      Ennio Brenner e Lamartine Souza enfrentaram-se no campeonato permanente, em jogo decisivo para definir a primeira posição, no ranking do A.T.C.

   O cronista que assinou “Soeu”, no Diario do Interior, destacou o jogo “entre os ‘veteranos’ Lamartine e Ennio, que terminou com a vitória deste por 6-3, 4-6 e 6-4.” 
Lamartine tinha 36 anos e jogava tênis desde o tempo em que era estudante de Medicina, em 1918, quando a quadra do A.T.C. estava na Av. Rio Branco. Ennio tinha 26 anos e começara a jogar havia sete anos.
   A seguir, o cronista descreveu “o interesse que despertou esse encontro entre os torcedores que tiveram o ensejo de apreciá-lo.”
 
   E comentou:



 No jornal A.T.C. de 25.2.1934, Lamartine Souza, em sua coluna Do tennis ..., escreve sobre  o revers ou backhand isto é, o golpe de revés. Após várias considerações técnicas, ele conclui citando Ennio Brenner e assinando “Ely Hesse”, pseudônimo que reproduzia o som de suas iniciais: L. S.

   

   1935
Ennio Brenner participou de várias diretorias do A.T.C., mas sempre recusou a presidência, quando esse cargo lhe era proposto. Seu interesse era o esporte, como atleta e como diretor esportivo, cargo que exerceu com entusiasmo e grande êxito, em várias gestões.
   Obteve marcante sucesso na abertura da temporada de tênis de 1935, o que lhe valeu, registrado em ata,  “um voto de louvor ao esforçado diretor esportivo, Sr. Ennio Brenner, pela maneira com que organizou,” salientando o registro que “ constitui uma nota inédita nos anais do tênis santa-mariense, de alguns anos para cá, a abertura da temporada de 1935.” A parte mais importante do programa foi o jogo das duplas Ennio e Flávio Paz contra Lamartine Souza e João da Costa Ribeiro, “a partida magistral que empolgou a assistência”. Venceu a dupla Ennio Brenner (28) e seu sobrinho Flavio Paz (17), chamado o “menino de ouro do tênis”, por 8x6, 3x6 e 7x5.
   Ennio Brenner e Lamartine Souza formavam uma dupla imbatível, nos torneios do interior.
Abertura da temporada do ATC, na Praça da República, em 24.3.1935.
João da Costa Ribeiro, Ennio Brenner, Flavio Paz e Lamartine Souza.
   Ennio manteve-se campeão do Avenida Tênis Clube até 1940, quando mudou-se para Santa Cruz do Sul, para assumir a gerência do Banrisul naquela cidade. Associou-se então ao Tênis Clube Santa Cruz.
   Em 26.10.1944, retornou a Santa Maria e ao Avenida Tênis Clube, participando da diretoria, principalmente como diretor esportivo, cargo que continuou a exercer mesmo após deixar o esporte, devido a uma hérnia abdominal, surgida em partida decisiva do torneio contra o Cruzeiro Tênis Clube, em Livramento. As equipes estavam empatadas e a simples entre Ennio e Joaquim Pereira de Sousa, presidente do Cruzeiro, era a última do torneio. Apesar das dores, Ennio venceu o longo jogo em 40 games, dando a vitória ao A.T.C.
   Na terça-feira seguinte, 18.5.1948, o jornal A Razão reportou que a “partida final foi a mais bela do torneio, tendo Ennio Brenner disputado uma das melhores de sua bonita carreira esportiva.” Comentou, a seguir, seu jogo admirável e um terceiro set disputado ponto a ponto, que se tornou sensacional para os torcedores. E concluiu:
Estava o Avenida Tênis Clube mais uma vez vitorioso, graças ao admirável esforço de um dos seus mais dignos defensores, Ennio Brenner, a quem novamente cabe o mérito de uma grande e vitoriosa jornada. Não fosse a excepcional resistência e sua fibra de veterano, estaríamos amargando o pó da derrota.
   Benemérito
   Aos 61 anos, afastado das lides esportivas, Ennio foi homenageado pelo Avenida Tênis Clube com o título de sócio benemérito, por resolução do Conselho Deliberativo, em 8 de janeiro de 1969, proposta pelo presidente do clube, Dr. Oyama Albuquerque de Carvalho.
   Consta no diploma que o título foi conferido "como testemunho de grande admiração de seus companheiros de Clube e pelos inestimáveis serviços prestados à Sociedade."

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Fontes:
Acervo pessoal.
Arquivo Histórico Municipal - Hemeroteca: coleções dos jornais Diario do Interior e A Razão.
Livro de atas nº 1 do A.T.C.

sábado, 15 de novembro de 2014

A.T.C. - Órgão do Avenida Tennis Club

No ano de 1933, fatos importantes ocorreram no Avenida Tênis Clube. Houve a eleição da primeira rainha, foi composto o hino, realizado um festival beneficente e lançado o A.T.C., o primeiro jornal do clube. Na metade do ano, meu pai, Ennio Brenner, tornou-se campeão de tênis.

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     Em 1933, o clube vivia uma época de intensa atividade esportiva e social, em sua sede na Praça da República. Vários torneios eram disputados com clubes de outras cidades, e muitas reuniões sociais foram realizadas, na recepção aos visitantes e durante a eleição da rainha. 
   Isso motivou a ideia de que fosse organizado no clube um setor de comunicação social. Na sessão de diretoria de 30.3.1933, realizada na residência do presidente João Appel Lenz, participou o associado Alcyr Pimentel, como convidado.  Alcyr Valfredo Pimentel viera do Paraná para trabalhar na cooperativa dos ferroviários e se associara ao A.T.C. quando o clube estava da Praça do Mercado (atual Saturnino de Brito), tornando-se aplicado tenista. Viveu mais de dez anos em Santa Maria, onde casou e teve o filho Roberto Valfredo, conhecido como Tatata Pimentel, falecido há dois anos, em Porto Alegre. 
   Alcyr Pimentel então propôs a criação de um Departamento de Propaganda no clube que, conforme consta na ata, seria encarregado, “de atrair os sócios para a sede, criando jogos de salão e reuniões, fazendo publicar, no jornal local Diario do Interior, uma série de crônicas e notícias, não só do que ocorresse dentro do clube como de tudo que pudesse interessar ao esporte do tênis.”
   A proposta foi aprovada, e o Departamento de Propaganda foi criado, a cargo do engenheiro Luiz Schmidt Filho, do médico Lamartine Souza e de Alcyr Pimentel, autor da ideia.
   O departamento foi logo incumbido de divulgar a eleição da rainha e um ofício foi endereçado ao jornalista Ney Luiz Osório, diretor do Diario do Interior, pedindo-lhe o necessário apoio quanto à publicação de notícias e crônicas sobre o tênis.
    Quase que diariamente, o Diario do Interior passou a apresentar matérias sobre o Avenida Tênis Clube, na forma de notícias sobre jogos e eventos sociais e de crônicas sobre temas variados ligados ao clube. Na época, estavam em moda os pseudônimos, e os cronistas do A.T.C. assinavam Marrecão, Fundo, Smash, Drive, Rod, Beduino, Joel, Sinhasinha, Nícia, Pythoniza e outros. Desses, só identifiquei Marrecão, que era Alcyr Pimentel.
   A.T.C. - o jornal
   Essa intensa atividade de comunicação gerou o surgimento do jornal A.T.C. – Orgão do Avenida Tennis Clube, o primeiro informativo social ateciano.
Logotipo do jornal A.T.C.

Cesar Millan, diretor
comercial do A.T.C.
Recorte de foto de 1935.
   O primeiro número do A.T.C., com quatro páginas, no formato  26 x 35 cm, surgiu em 1º de novembro de 1933. O diretor comercial era Cesar Millan, gerente da Livraria do Globo, que seria presidente do clube, por curto período, em 1935. O diretor responsável era Alcyr Valfredo Pimentel, e o redator-chefe era o médico Lamartine Souza, campeão do clube de 1920 a 1933 e seria seu presidente, em 1934.
Lamartine Souza, redator-
chefe do A.T.C.
Recorte de foto de 1932.
   A.T.C., o jornal, tinha redação, gerência e oficinas na Livraria do Globo, situada na 1ª Quadra da Rua Doutor Bozano, onde hoje está o edifício do Santa Maria Shopping. Cesar Millan, gerente da livraria, exercia em seu próprio escritório a direção comercial do A.T.C. e cedia espaço e equipamentos do setor administrativo para a redação do jornal. Nas oficinas gráficas da Livraria do Globo, que ocupavam grande área no subsolo da loja, era feita a impressão do A.T.C.
A importante empresa no ramo de
joias, relógios, pratarias e cristais
também vendia raquetes de tênis.

   
   As empresas santa-marienses que anunciavam no A.T.C. eram a Casa Binato, inaugurada em 1934, Casa Herrmann, Parisiense, Casa Oreste, Alfaiataria Dania, Casa Flora, Casas Pernambucanas, A Brasileira, Officinas Gauer, Casas São Paulo e Royal. A mais frequente era a Joalheria Péreyron.

   Uma personalidade do clube era destacada com foto e texto em coluna da primeira página que, a partir da 3ª edição, foi denominada “Galeria do A.T.C.”  A 1ª edição homenageou Norma Seibel, a Rainha:
O A.T.C. muito se envaidece e se orgulha, estampando em lugar de honra, o retrato da rainha de seu clube. A singeleza da homenagem não corresponde, é claro, à sua significação, mas deixa bem ver sua sinceridade. Soberana escolhida e eleita em pleito renhido, Norma impôs-se aos seus consócios pela graça natural, pela bondade, pelos dotes de espírito, pelo temperamento artístico e, quiçá, pelos seus olhos azuis. Irradiando beleza e mocidade, atrai naturalmente, sem coquetterie inútil. Seu prestígio não decorre do reinado. Norma é mais, é muito mais que rainha do Avenida – princesa linda e imperatriz da graça.  A.T.C., jornal de seus súditos, rende-lhe a homenagem de seu respeito.
   Nas colunas do jornal ateciano eram publicadas matérias várias: notícias, artigos, crônicas, comentários sociais, sempre assinados com pseudônimos. Tilden, Bidu, I di Ota, Sonhadora, Glória da Cidade, além dos já citados Fundo e Marrecão que, sabemos, era Alcyr Pimentel.
   O redator-chefe, Lamartine Souza, com sua longa experiência e aptidão tenísticas, escrevia sobre a técnica e jogadas do esporte. Usava o pseudônimo Elly Hesse, uma transposição fonética das letras iniciais de seu nome: L. S.
   Tênis de cuecas
   Um dos articulistas atecianos, que assinava T. Teco, escreveu na primeira edição do A.T.C. suas impressões sobre o então incipiente uso de calças curtas por alguns tenistas. Até então e nos anos seguintes, o uniforme branco do tênis incluía calças compridas.
   A semelhança do short branco com as grandes cuecas então usadas levou o articulista e outros a cunharem o termo “cuequismo”, isto é, jogar tênis de cuecas.
   Eis o primeiro parágrafo:

   Circulação e duração
   No expediente das primeiras edições é informado que o A.T.C. teria circulação bimensal “nas primeira e terceira semanas de cada mês”. Entretanto, tal periodicidade não ultrapassou a edição nº 5, quando se tornou mensal e, depois, voltou a ser bimensal em abril e maio de 1934. Entre o nº 12 e o 13, decorreram quase três meses.
   Na edição nº 13, de 6.9.1934, a direção do jornal explica a suspensão durante “a época mais aguda do inverno” quando a presença dos associados no clube havia diminuído e os colaboradores haviam deixado de produzir suas matérias.
   Não é possível saber quando o A.T.C. deixou de circular. No número 13, de 6.9.1934, última edição conhecida, uma nota explicativa da ausência do jornal durante o inverno nada comenta sobre sua suspensão. Ao contrário, anuncia que o jornal completará um ano de circulação e finaliza reclamando a participação dos associados.

   As atas da época e dos anos seguintes nada registram sobre a extinção do jornal.
   Há vários anos, Luiz Carlos Lang doou ao clube uma coleção do jornal A.T.C. com números que haviam pertencido a seu pai, Carlos Lang, e a Docelina Gomes da Rocha, uma das fundadoras. Outra coleção do jornal, da qual guardo cópia em meu arquivo, que pertencera a Amélia Pereira, a 2ª Rainha do Tênis, foi por mim entregue ao clube, há mais de 10 anos.
   Em novembro de 2012, precisando examinar as edições originais, eu as solicitei a Lisete Fröhlich, Superintendente do Avenida Tênis Clube, que com sua costumeira diligência determinou às arquivistas do clube a busca no arquivo. Infelizmente, só foram encontrados os números 1 e 11. Assim, além dessas duas edições, creio que existem somente as cópias dos números 1 a 13 em meu arquivo.

Fontes:
Acervo pessoal
Livro nº 1 de atas do Avenida Tênis Clube
A.T.C - Orgão do Avenida Tennis Clube, edições nº 1 a nº 13, 1933-34.


sábado, 8 de novembro de 2014

O festival do tênis

No ano de 1933, fatos importantes ocorreram no Avenida Tênis Clube. Houve a eleição da primeira rainha, foi composto o hino, realizado um festival beneficente e lançado o A.T.C., o primeiro jornal do clube. Na metade do ano, meu pai, Ennio Brenner, tornou-se campeão.
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   Em 15.9.1931, o Avenida Tênis Clube (ATC) realizou um festival beneficente, no Coliseu Santamariense, que ficou lotado. As atas não revelam o motivo, sequer mencionam a realização do festival, mas pode ter sido para cobrir despesas decorrentes das novas instalações da sede, na Praça da República, inauguradas em 21.6.1931.
    Festival de 1933
  Dois anos depois, um novo festival, inicialmente projetado para homenagear a rainha do ATC, solenizando sua coroação, tornou-se um variado espetáculo de artes cênicas, em benefício do clube, realizado no Cine-Theatro Independência.
 
O Festival do Tênis foi realizado no Cine-Theatro Independência,
na Praça Saldanha Marinho, onde hoje existe um shopping popular.
À direita, o Centro Hotel em cujo prédio foi inaugurado, em 7.10.1934,
o jornal A Razão, que ali esteve durante 41 anos.
   Apresentações artísticas com o objetivo de angariar fundos para as sociedades locais haviam sido frequentes em passado recente. Na expectativa da realização do festival do Avenida Tênis Clube, um cronista escreveu, sob o pseudônimo “Joá”, no Diario do Interior, em 4.7.1933:
Não vão longe os tempos em que todos quantos em Santa Maria apreciavam os espetáculos de arte, fartavam-se de prazer, assistindo as magníficas soirées artísticas, organizadas em beneficio de nossas sociedades [...]. Aqueles espetáculos ganharam fama, e as enchentes e os aplausos gerais premiavam os esforços [...]. Depois, somente de longe em longe nos foi dado rever na ribalta os destacados elementos do mundo artísticos desta terra.
   O cronista prosseguiu afirmando sua confiança de que a festa de arte do Avenida Tênis Clube ofereceria a oportunidade de apreciar as inteligências moças que surgiram e brilhavam no meio artístico santa-mariense. Atores, autores e diretores poderiam revelar seus admiráveis dotes.
   Em 10 de maio, outro cronista escrevera que “para a respectiva entronização, está projetado um programa extraordinário, ao qual a diretoria do Avenida pretende dar um caráter de – reinado de verdade – solenizando-o, de maneira invulgar.”
Francisca de Campos Souza, "Dona
Chiquinha", esposa do Dr. Lamartine, 
foi organizadora do Festival.
   Naquele mês, foi criada uma comissão organizadora de várias pessoas que, entretanto, ficou reduzida a um número pequeno de senhoras ateceanas. Logo começaram, na sede do A.T.C. e no Clube Comercial os ensaios de danças clássicas e modernas, dirigidos por Renée Gauer, jovem professora de ginástica corretiva e rítmica.

   Era noticiada a participação dos elementos mais representativos do mundo artístico local: Norma Seibel, violinista; Clelia Filizzola, soprano; Hertha Puhlmannm pianista;  Garibaldi Poggetti, violoncelista e outras tantas figuras representativas do nosso escol artistico. A notícia antecipava que a primeiro ato seria composto de solos de violino, violoncelo, canto, dança, declamação e do consagrado coro a quatro vozes “Friedemann Bach”, sob a regência do Maestro Garibaldi Poggetti, que havia alcançado grande sucesso nos concertos realizados. Destacava o segundo ato, quando seria encenada “Barafunda”, uma revista de costumes locais, escrita especialmente para o festival por Lamartine Souza, citado como “um dos mais abnegados atecianos e elemento de maior cultura desta cidade”.
  A festa cênica era chamada Festival do Tênis ou Festival da Rainha. Três semanas antes do espetáculo, Alcyr Pimentel, sob o pseudônimo de “Marrecão”, finalizava sua crônica exaltando os dotes de Norma Seibel, a rainha a ser coroada.
 
Diario do Interior, 15.6.1933 - trecho final da crônica.
   Finalmente, na noite de terça-feira, 4.7.1933, o público lotou o Cine-Theatro Independência,  com capacidade para 2.000 pessoas.
   Na dança intitulada “No Templo das Três Graças”, tomaram parte Águeda Brazzale, Clelia Nieves, Amélia Pereira, Norma Saldanha, Mary Monteiro, Lourdes Crossetti, Hilda Soares, Emília Benaduce e as meninas Berenice Souza, Caster Belém, Lise Lenz, Leda Martins, Maria Bastide, Maria Souto e Therezinha Fernandes.
Publicado cinco vezes no Diario
do Interior
, em 4.7.1933

    No terceiro e último ato do espetáculo, Norma Seibel, a rainha eleita do Avenida Tênis Clube, foi solenemente coroada.
   Após a coroação, Norma Seibel trocou o vestido branco de rainha por um longo azul e executou uma peça ao violino, instrumento de que era exímia professora.
Fechando a linda festa de arte, os tenistas cantaram, em coro, o hino do valoroso Avenida Tênis Clube.
 
Norma Seibel, portando a coroa fabricada pela Escola de Artes e Ofícios
Foto de Venancio Schleiniger
Em 7.7.1933, o Diario do Interior
anuncia a reprise do Festival.
 O sucesso foi tal que uma reprise do espetáculo foi levada à cena, na sexta-feira seguinte, acrescentando ao programa um bailado das alunas do Colégio Centenário.

  Na sessão de diretoria do dia 15 de julho de 1933, foi deliberado um voto de louvor pela organização do Festival e registrado o benefício para o clube que, “não obstante a avultada despesa,” resultou a renda líquida de R$1:800$000
O Diario do Interior, edição de 7.7.1933, reconhece
o trabalho da comissão organizadora do Festival.


Fontes:
Acervo pessoal.
Acervo de Norma Seibel de Oliveira.
Arquivo Histórico Municipal de S. Maria - Hemeroteca
Livro nº 1 de atas do Avenida Tênis Clube.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Rodolpho Laydner – um ourives famoso

Rodolpho Laydner ~42 anos. Det. de foto
quando em visita a seu pai, em 1899.
   Nascido em Santa Maria, no dia 15 de abril de 1857, Rodolpho foi o primeiro filho homem de Jacob Ludwig Laydner e Maria Luiza Niederauer Laydner. O nascimento ocorreu na residência da família, construída três anos antes, na Rua Pacífica, depois Rua do Comércio. Após sucessivas reformas e ampliações, é a casa onde resido, na 2ª Quadra da Rua Doutor Bozano, 1065, assim renomeada, em 1924.

   Rodolpho Laydner tinha nove meses e meio quando foi batizado pelo Padre Antonio Gomes Coelho do Valle. O batismo foi celebrado na pequena e singela igreja católica da povoação, situada no local correspondente hoje à extremidade sul da Avenida Rio Branco, de frente para o espaço então destinado à praça.

   No Livro 5 de Batismos, fl. 25, da Igreja Matriz de Santa Maria, está registrado:
Rodolpho
Ao primeiro dia do mês de janeiro de mil oitocentos cincoenta e oito annos, nesta Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Santa Maria da Boca do Monte baptizei e puz os Santos Oleos ao innocente Rodolpho nascido a quinze de Abril de mil oitocentos cincoenta e sete filho legitimo de Jacob Luiz Laidner, natural d’Alemanha, e Luiza Laidner natural de São Leopoldo; netto paterno de João Laidner e Francisca Laidner; e netto materno de Filippe Niederauer e Anna Catharina Niederauer, todos os avós naturais d’Alemanha: Forão padrinhos João Veber e Maria Catharina Niederauer do que para constar fiz este assento. O Vig.º Antonio Gomes Coelho do Valle

   A madrinha, Maria Catharina Niederauer, era a esposa do então capitão João  Niederauer Sobr. - depois o heróico Cel. Niederauer -, tio do batizando, que partira, no mês anterior, integrando o Exército de Observação, para vigiar as fronteiras com os países platinos.
   O padrinho, João Weber, nascido em São Leopoldo, em 1829, casaria no ano seguinte, em 9.9.1858, com Joanna Sophia Niederauer, irmã de Maria Catharina.
   O Padre Antonio Gomes Coelho do Valle exerceu seu vicariato, em Santa Maria, de 17. 7.1853 até sua morte, em 9.11.1865.
   Rodolpho casou com Carolina Kümmel, nascida em 2.2.1862, filha de Carl Daniel Kümmel e Margarida Druck. Carolina era neta do genearca Johann Daniel Gottlieb Kümmel, nascido no vilarejo Lindenau/Prússia Ocidental, hoje Lipinka/Polônia. Foi o primeiro ferreiro da Colônia Alemã de São Leopoldo, aonde chegara em 12.8.1824.
   O casal teve os filhos: Rodolpho Laydner Filho (engenheiro civil, construiu a Hidráulica de São Leopoldo, em 1925), José Laydner, Augusto Laydner, Celina Laydner e Luiz  Laydner
   Aos 30 anos, Rodolpho e seu pai, Jacob Ludwig Laydner estavam entre os 31 fundadores do Clube Atiradores Santamariense, em 28 de setembro de 1887, então com sede na Rua Barão do Triunfo, onde havia o estande de tiro, em área cedida pelo presidente fundador Carl Müller.

   Ourives
   Jacob Ludwig Laydner, pai de Rodolpho, embora fosse um jovem de 19 anos quando imigrou na Colônia Alemã de São Leopoldo, em 1848, já tivera boa formação como ourives na Europa. Poucos anos depois se estabeleceu em Santa Maria e, por volta de 1853, ele abriu a Casa Laydner, especializada em ourivesaria, relojoaria, ótica e selaria, ao lado de sua residência, onde hoje está o prédio nº 1073 da Rua Dr. Bozano.
   Na Casa Laydner, Jacob Ludwig foi mestre de seus sobrinhos e de seus dois filhos mais velhos – Rodolpho e João David – e de seu concunhado Nicolau Mergener, que abriu sua loja, em 1863, na esquina abaixo, a Casa Mergener.

   Rodolpho foi o mais destacado dos filhos de Jacob Ludwig Laydner.
   Fez parte da equipe que realizou a locação da ferrovia Santa Maria-Passo Fundo, isto é, o reconhecimento preliminar que serve de base para o traçado definitivo, feito com levantamentos topográficos. O primeiro trecho seria iniciado em Santa Maria, em 1893, apesar da Revolução Federalista que convulsionava o Estado.

   R. Laydner & Cia.
   Seu irmão João David Laydner, cinco anos mais jovem, era ourives em Porto Alegre quando faleceu de "tifo preto", em 24.1.1899, com apenas 36 anos de idade.
   A viúva, Sophia Molz Laydner, então se associou com o cunhado Rodolpho Laydner. O contrato foi registrado em 8 de novembro de 1900, sob a razão social R. Laydner & Cia. no ramo de ourivesaria e relojoaria a varejo, pelo prazo de cinco anos, a contar de 22 de julho de 1899, com o capital de Rs 61:095$000 (61 contos e 95 e cinco mil réis). O contrato estabelecia:se a viúva contrair novas núpcias deixará a sociedade.” Foi registrado na Junta Comercial do RGS sob nº 2648.
   A casa de ourives de R. Laydner & Cia. ficava no centro de Porto Alegre, Rua Marechal Floriano nº 110. No Guia Bemporat, edição 1908-09, página 173, sob o título “Ourivesarias e Relojoarias”, consta: R. Laydner e Cia., Rua Marechal Floriano, 110, em Porto Alegre.
   Há 106 anos, o Correio do Povo publicou, na edição de 3 de junho de 1908, a reportagem abaixo transcrita com atualização ortográfica:

Sela mexicana - Vimos ontem, na vitrina da Casa Laydner, à Rua Marechal Floriano nº 110, uma luxuosa sela mexicana, prontificada por encomenda do Coronel João Francisco. A carona, de couro de tigre, tem, aos cantos, escudos de prata, com incrustações de ouro, e o assento é de couro de porco. Os coldres e a maleta são de couro de tigre, com guarnições de prata e ouro, e o cabeço da sela ostenta o monograma do Coronel João Francisco. O trabalho de selaria foi prontificado na Casa Schneider & Cia., e o de ourivesaria na oficina dos Srs. Laydner & Cia., fazendo ambos honra à nossa indústria. O Coronel João Francisco utilizará esta sela nas cavalhadas que se realizarão no Rio de Janeiro, por ocasião da exposição nacional. 

   O cliente era João Francisco Pereira de Souza, líder político do Partido Republicano em Livramento, que comandava o Quartel do Caty, no interior do Município, junto à divisa com Quaraí. Era uma unidade militar criada para combater a Revolução Federalista. O Cel. João Francisco acumulou grande poder militar e policial na região da fronteira e, devido à crueldade de suas ações e sua fama de sanguinário, foi chamado por Ruy Barbosa de a "Hiena do Caty".
   A exposição citada, que decorreu de 11 de agosto a.15 de novembro de 1908, comemorava  centenário da abertura dos portos. Fazia parte do programa a encenação das "Cavalhadas", uma tradição portuguesa que representava as batalhas entre cristãos e mouros, na Reconquista da Península Ibérica.
   Exposição Estadual de 1901
   O governo do Estado promoveu uma exposição industrial e agropecuária, de 24 de fevereiro a 2 de junho de1901, instalada em uma grande área à esquerda e atrás do antigo edifício da Escola de Engenharia, em frente à Praça da Argentina.
   Participaram 60 municípios com 2.200 expositores entre os quais Rodolpho Laydner. O catálogo da exposição, no setor de "Ourivesaria e joalheria", página 247, apresenta:
Expositores: Laydner & C. - Rua Marechal Floriano n. 110
Expõem os seguintes artefatos, executados em suas oficinas por operários nacionais e rio-grandenses.
Um aparelho de trança de fio de prata de 1ª qualidade, ornamentado com as armas do Rio Grande, em ouro de 18 quilates, constando das seguintes peças:
1 peitoral, 1 buçalete com cabresto, 1 cabecada. 1 par de rédeas, 1 rabicho, 1 maneia, 1 chicote, 1 freio, 1 par de bocais, 1 par de estribos meia picaria, 1 dito de esporas.
Pesando tudo 8 kg de prata e 400 g de ouro, no valor de Rs5:000$000.
2 facas guarnecidas de prata e ouro, no valor de Rs350$000.
1 par de boleadeiras de marfim, aparelhadas de prata, no valor de Rs100$000.
1 aparelho de prata encorreado em couro de anta, no valor de Rs650$000.
   Valeria atualmente Rs$24.000,00 em prata e Rs$32.000,00 em ouro, somente no apero, sem considerar a mão de obra.
   Johann Carl Laydner, vitivinicultor em Santa Maria, tio de Rodolpho, também participou da exposição com “12 garrafas de vinho tinto”, conforme o catálogo.

Exposição Estadual de 1901. À direita, a fachada lateral da Escola de Engenharia

  Política
  Rodolpho desenvolveu intensa atividade política, sendo personagem do mais alto relevo do Partido Republicano, como um dos seus fundadores e organizadores, em Santa Maria. Junto com outros cinco correligionários, fundou o Clube Republicano e, a seguir organizou o Partido na cidade, cujas reuniões eram realizadas em sua própria casa.
  Em Porto Alegre, continuou sua atividade partidária, estreitando amizade com Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros.
Augusto Laydner
   Augusto Laydner, o terceiro filho de Rodolpho, tornou-se também um membro ativo do Partido Republicano. Nascido em Santa Maria, em 28.1.1889, ele começou como caixeiro-viajante nos difíceis tempos em que percorria as rústicas estradas do interior em cavalgaduras e carroças. 
   Estabeleceu-se em Porto Alegre com casa comercial no ramo de ferragens e outras mercadorias, as Casas Laydner, na Rua Marechal Floriano. Transferiu residência para a Ilha da Pintada onde, em sociedade com Oscar Schmitt, ampliou o serviço de navegação entre as ilhas e a capital, com modernas lanchas a gasolina. Casou com Santa Santos, professora.
   Em minha infância, lembro da presença de seu filho mais velho, Werther, em nossa casa, em visitas à sua tia-avó Lydia Laydner Brenner, minha avó materna.


  As capas da Constituição Estadual de 1891
  Há muitos anos, conduzido pelo saudoso colega o arquiteto José Albano Volkmer, bisneto de João David Laydner, visitei o Museu Júlio de Castilhos para conhecer a capa de prata da Constituição do Estado do Rio Grande do Sul de 1891. Volkmer informou-me que a peça, medindo cerca de 25x35 cm e contendo a inscrição  Ao dr. Julio de Castilhos a Brigada Militar, fora elaborada por Rodolpho Laydner. Fotografei então a peça de prata com uma pequena câmara analógica, sem bos condições de iluminação, resultando uma foto de má qualidade.
   Em 2005, voltei ao museu para obter uma foto melhor, mas não mais encontrei a capa de prata, nem obtive qualquer informação dos funcionários.
   Rodolpho deve tê-la feito nos primeiros anos de sua empresa em Porto Alegre, pois Júlio de Castilhos faleceu em 24.10.1903.

   Recentemente, Guilherme Souto, trineto de Rodolpho Laydner, trouxe-me a informação de que uma outra capa da Constituição Estadual de 1891, que pertencera a Borges de Medeiros, fora confeccionada em ouro por seu trisavô. Fotos dessa peça foram publicadas no livro O Parlamento Gaúcho - da Província de São Pedro ao século XXI, 2013, com a legenda: “Este exemplar, com capa de ouro, pertenceu a Borges de Medeiros, que a mandou confeccionar para si”. Dificilmente o Presidente do Estado do R.G.S. confiaria o trabalho a outro ourives que não fosse seu amigo e correligionário Rodolpho Laydner.
    A valiosa peça pertence ao acervo cultural da Assembleia Legislativa e até poucos anos atrás esteve exposta com a identificação: “Autor: Rodolpho Niederauer Laydner”.
    Acrescente-se que o engenheiro Amadeu Laydner, no artigo Os ourives, publicado no Correio do Povo, em 28.7.1974, afirmou:
[...] Rodolfo, igualmente ourives, viera para Porto Alegre e aqui faleceu em 1938, tendo deixado grande nome como profissional. O original da Constituição Estadual de 14 de julho de 1891 está capeado por um trabalho em prata e ouro por ele executado.
    Amadeu Laydner era neto de Jacob Luiz Laydner Sobrinho, que fora aprendiz de Jacob Luiz Laydner e se estabelecera em Alegrete. Amadeu morava em Porto Alegre, na Rua Duque de Caxias, 1243, apartamento 901. Certamente ele conhecera a Constituição “capeada por um trabalho em prata e ouro” e não se referia à peça do Museu Júlio de Castilhos, quase em frente ao seu endereço, feita somente de prata.
    Rodolpho Niederauer Laydner faleceu em Porto Alegre, em 11 de junho de 1938, com 81 anos de idade.

Fontes:
Arquivo pessoal.
Arquivo da Cúria Metropolitana de Santa Maria. Livro 5 de Batismos, fl. 25, da Igreja Matriz de Santa Maria.
LAYDNER, Amadeu. Os ourives. Correio do Povo, Porto Alegre, 28.7.1974.
SOARES, Débora Dornsbach e ERPEN, Juliana (org.). O Parlamento Gaúcho - da Província de São Pedro ao século XXI, Porto Alegre: Assembleia Legislativa do R. G. do Sul, 2013.
TIMM, Octacilio B. e GONZALES, Eugênio (org. e edit.). Album illustrado do Partido Republicano Castilhista - RGS. Porto Alegre: Livraria Selbach, 1934.
Correio do Povo, Porto Alegre, edição de quarta-feira, 3.6.1908..


sábado, 21 de junho de 2014

O hino do Avenida Tênis Clube

No ano de 1933, fatos importantes ocorreram no Avenida Tênis Clube. Houve a eleição da primeira rainha, foi composto o hino, realizado um festival beneficente e lançado o A.T.C., o primeiro jornal do clube. Na metade do ano, meu pai, Ennio Brenner, tornou-se campeão.

    O Avenida Tênis Clube teve seu primeiro e único hino, composto em 1933, com música de Horst Walter Puhlmann e letra de Lamartine Souza.
    O médico Lamartine Souza, campeão do clube, desde 1920, era então vice-presidente e atuava, desde 1922, na Diretoria Executiva e no Conselho Fiscal. Era homem de vasta formação cultural, especialmente no âmbito da literatura.
Horst Walter Puhlmann
    Horst Puhlmann nasceu em Santa Maria, em 1912, filho de Alfredo Puhlmann, natural de Santa Cruz e aqui estabelecido, desde 1911, após formar-se em odontologia, em Berlim.
    Horst começou a jogar tênis, em meados de 1930,  no Santa Maria Tênis Clube, na Rua Silva Jardim, entre as ruas Serafim Vallandro e Duque de Caxias. Esse clube surgiu de uma dissidência no Avenida Tênis Clube, que levou um importante grupo de sócios a se demitirem e fundarem a nova associação, em 9.11.1929. Entre eles, Mimi Philbert, vice-presidente, Ginette Turi, principal tenista, e Aracy Azevedo, uma das fundadoras e ex-presidente do A.T.C.
Dr. Lamartine Souza,
autor da letra.
    Na época, o A.T.C. teve suas atividades esportivas suspensas por mais de um ano, com a desocupação da Praça do Mercado (Saturnino de Brito), imposta pela Intendência Municipal, devido às obras de saneamento básico. Em 21.6.1931, inaugurou novas instalações na Praça da República, com três quadras, onde o jogo voltou a ser intensamente praticado.
    Três meses depois, em 20.9.1931, o Avenida Tênis Clube recebeu em sua sede o Santa Maria Tênis Clube, para um torneio, uma iniciativa do clube anfitrião para estabelecer boas relações com o coirmão local.
    O jovem Horst Puhlmann, com 19 anos, era o principal tenista do clube visitante e foi a maior revelação do torneio. Jogou contra Ennio Brenner, 24, então vice-campeão do A.T.C., perdendo por 6x1, 3x6 e 6x1.
Referindo-se ao torneio, o Diario do Interior, em 29.9.1931, destacou o desempenho de Horst.
    Desejando ingressar no A.T.C. e sendo proposto para associar-se, Horst já jogava nas quadras do clube em agosto de 1932, sendo admitido como sócio, na sessão de diretoria, em 3.9.1932.
 
Sob o pseudônimo de Drive, o cronista do tênis comemorou a aquisição de Horst, no Diario do Interior, em 11.8.1932.
    Horst Puhlmann, contabilista de profissão, era um habilidoso pianista. Não tinha conhecimentos teóricos de música, mas com uma reconhecida aptidão natural, "tocava de ouvido", com muito talento. Na mesma época em que ele se tornou sócio do A.T.C., o clube adquiriu um piano no qual Horst revelava suas habilidades musicais, animando as frequentes reuniões realizadas no pavilhão social. Em 1933, o entusiasmo geral para a realização do festival artístico em beneficio do clube, quando seria coroada sua rainha, animou o jovem músico a compor o hino do A.T.C.
     Em 19 de maio, sábado, Horst tocou, no piano da sede, o hino que havia composto, sendo muito aplaudido pelo grande número de ateceanos presentes. Foi então anunciado que a letra seria escrita por Lamartine Souza. 
Partitura do Hino do A.T.C., com a observação "incompleto".
    Na edição do Diario do Interior de terça-feira seguinte, o cronista que assinava “Fundo” atribui uma “capacidade prefulgente” a Horst. Comenta que em pouco tempo o “novel compositor escreveu uma linda ‘marcha de guerra’ para o A.T.C.” acreditando que ele se inspirara “no seu próprio estilo tenístico violento, para depois, na defensiva, entrar numa fase mais calma.”
    O cronista revela, a seguir, a importante participação de Herta Puhlmann, irmã de Horst.
Diario do Interior, terça-feira, 23.5.1933, 1ª página.
   Quando encontrei a letra do hino, publicada no Diario do Interior, na edição de 1.7.33, entrei em contato com a Prof.ª Herta, na esperança de que ela tivesse a partitura. Contou-me então que Horst compusera o hino e, como ele não conhecia a técnica, ela escrevera na pauta as notas musicais. Herta Thea Puhlmann era professora de inglês, no Colégio Centenário, onde seria diretora, de 1966 a 1980. Em sua homenagem, o prédio do Colégio Centenário destinado à pré-escola foi denominado, em 1972, “Edifício Herta Puhlmann Chagas. Ela era também apreciada pianista, tendo se apresentado em concertos, na cidade.

    Na edição de 1.7.1933, sábado, o Diario do Interior publicou a letra do hino do A.T.C. que seria "cantado em seu próximo festival, por um grupo de moças da nossa sociedade."
 Que prazer freqüentar o “Avenida”
Pelas tardes bonitas de sol,
Exaltando a alegria da vida,
Num ambiente de elite e de escol.

Há encanto que não se descreve,
Que impressiona, mas que não se diz
Numa frase sutil, fina, breve,
Ou num drive em que se foi feliz.
 Coro:
Lá no “Avenida” tudo é lindo;
Nosso clube é sem rival.
Vamos pra frente, alegres, rindo,
Porque a vitória é sempre do mais jovial.

A raquete é sinal de lealdade,
De nobreza, de ritmo, de tom.
Faz pensar numa felicidade,
Na ventura de ser belo e bom.

Branca e azul é nossa bandeira,
Pavilhão todo cheio de glórias.
Branca e azul, tremulando altaneira,
Com orgulho de nossas vitórias.

Edith Stellfeld  (E) e Herta
Puhlmann, na inauguração
da quadra do Colégio Centenário.

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    Em 1º de setembro de 2002, domingo, Herta me telefonou, informando que achara a partitura. No dia seguinte, eu a visitei em seu apartamento nº 403, no Edificio Pimenta, à Rua Dr. Bozano, 729, levando a letra do hino, escrita por Lamartine Souza. Ela então sentou-se ao piano e tocou o hino do A.T.C. composto por seu irmão, enquanto ambos cantamos a letra. Música e letra se ajustaram na primeira estrofe, mas não na sequência.
    Em 11.9.1935, o Colégio Centenário inaugurou uma quadra de tênis onde Herta Puhlmann também passou a jogar. Entre as tenistas do Centenário estava a aluna interna Edith Stellfeld, de Livramento, com quem Horst Puhlmann casou, em 1940.
    O hino foi apresentado ao público no festival de coroação da rainha e em benefício do Avenida Tênis Clube, no Cine Independência, cantado por um coro de ateceanos, em 4.7.1933.
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Fontes:
Livro nº1 de atas do ATC.
Diario do Interior, S. Maria, hemerotecas do Arquivo Histórico Municipal e da Casa de Memória Edmundo Cardoso.
Acervo José Antonio Brenner.
Acervo família Puhlmann.