sábado, 23 de abril de 2016

AACMEC - Um ano

   A Associação dos Amigos da Casa de Memória Edmundo Cardoso-AACMEC completa um ano de atividades neste domingo, dia 24.
Confraternização após a assembleia de fundação, em 24.4.2015. Da esq.: Gilda May Cardoso Santos, Therezinhe de Jesus Pires Santos, Serafina Abreu, Jovana de Oliveira, Greta Simões, José Antonio Brenner, Clara Kurtz, Fernanda Kieling Pedrazzi, Glaucia Konrad, Daniéle Calil e Carlos Blaya Perez.

   Foi fundada em 24 de abril de 2015, por um grupo de 21 pessoas que se reuniram na sala principal da Casa de Memória, a convite de sua coordenação. No dia 11 de maio, em nova reunião, elegeram a diretoria da AACMEC, identificada abaixo, na relação dos associados efetivos e fundadores:
Fernanda Kieling Pedrazzi - Presidente
Clara Marli Scherer Kurtz – Vice-presid.
Greta Dotto Simões – 1ª Secr.
Jovana Souza de Oliveira – 2ª Secr.
Célia Regina Deboni Blaya – 1ª Tesour.
Gladis Borim – 2ª Tesour.
Gilda May Cardoso Santos – Repr. CMEC
Serafina de Araujo Abreu – Cons. Fiscal
Carlos Edison Domingues – Cons. Fiscal
Maria Fátima V. Marques – Cons.  Fiscal
Maria Candida da Silveira Skrebsky – Supl.
Guido Cechella Isaia – Supl.
Glaucia Vieira Ramos Konrad – Supl.
Therezinha de Jesus Pires Santos
Luiz Fernando Caminha dos Santos
José Antonio Brenner de Brenner
Daniéle Xavier Calil
Carlos Blaya Perez
Werner Rempel
Paulo Airton Denardin
Valter Antonio Noal Filho

 Nota: Em outubro, Eliete Camargo (associada nº 22) foi conduzida ao cargo de secretária, substituindo Greta Simões, que se mudou da cidade.

   A “Casa de Memória Edmundo Cardoso” é uma instituição que tem como função primordial a guarda, a conservação e a organização de documentação histórica de origem privada, principalmente referente a Santa Maria e sua região.
Casa de Memória Edmundo Cardoso [foto J.A.Brenner 2011]

Está instalada na Rua Pinheiro Machado n.º 2712, em Santa Maria, em prédio que foi, por quase seis décadas, a residência do criador do acervo, o jornalista, escritor, memorialista, ator e diretor de teatro Edmundo Cardoso. O prédio foi construído em 1911, para residência de Constantino Gomes.
O Diario do Interior noticiou a construção
da casa. Chamavam chalet a edificação com
frontão triangular. Ypiranga era o nome
da atual Rua Pinheiro Machado.

  Após o falecimento de Edmundo Cardoso, em 5.12.2002, sua viúva, Therezinha de Jesus Pires Santos, e sua filha, Gilda May Cardoso Santos, denominaram a instituição “Casa de Memória Edmundo Cardoso” em homenagem ao iniciador e formador do acervo que constitui importante fonte para pesquisas sobre a cidade e a região, disponível à consulta pública.
  O objetivo da AACMEC é mobilizar a comunidade nas ações para suplementar as carências administrativas, técnicas e culturais da Casa de Memória. Promover, prestigiar e divulgar os eventos culturais da CMEC. Projetar melhoramentos do espaço físico, atuar na obtenção de bens documentais para o acervo da CMEC.

  Nesse primeiro ano de atividade, a diretoria da Associação, entre outras ações,
  • Criou a página da AACMEC no Facebook e ativou o e-mail aacasadememoriaedmundocardoso@gmail.com
  • Realizou a inscrição da Associação no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ).
  • Obteve o Alvará de Localização.
  • Cadastrou a Associação como Empreendedor Cultural, na Secretaria de Município da Cultura, visando à habilitação aos benefícios da Lei de Incentivo à Cultura de Santa Maria.
  • Adotou a logomarca criada pelo programador visual Valter Antonio Noal Filho, associado da AACMEC.
    Na criação da marca, os pilares da
    entrada foram adotados como elementos
    identificadores da Casa de Memória.
  • Produziu o impresso promocional da Casa e da Associação, também criado por Valter A. Noal Filho e patrocinado pela Fundação Eny.
  • Elaborou o projeto “Criação do Laboratório de Digitalização da Casa de Memória Edmundo Cardoso: acervo dos jornais O Combatente e O Estado”, aprovado pela Secretaria de Município da Cultura.
  • Realizou a captação de recursos ref. à LIC, obtendo o  valor total.
  • Obteve a aprovação da UFSM para o projeto de extensão “Digitalização da Hemeroteca da Casa de Memória Edmundo Cardoso”, sob coordenação da Prof.ª Fernanda Kieling Pedrazzi, que inclui bolsas aos alunos do Curso de Arquivologia que atuarem no projeto.
   Temos muito que comemorar, neste 1º aniversário das AACMEC, por tantas e importantes realizações, sinalizando outras que virão.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Santa Maria - 150 anos

No dia 8 de abril de 1866, um expressivo número de imigrantes alemães e descendentes, moradores em Santa Maria e no Pinhal, hoje Itaara, fundou a Deutsche Evangelische Gemeinde, ou seja, a Comunidade Evangélica Alemã, atual Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Santa Maria.

Antecedentes
Alemães e descendentes começaram a se fixar em Santa Maria, desde 1829, quando chegou à povoação o 28º Batalhão de Caçadores.  Era formado por militares contratados na Alemanha pelo governo imperial, em 1824, para reforçar o exército brasileiro.
Enviados ao Sul a pretexto de lutarem na Guerra Cisplatina, que, entretanto, terminara, foram logo licenciados. Alguns ficaram em Santa Maria, enquanto muitos outros foram à Colônia Alemã de São Leopoldo à procura de terras, o que tornou a povoação santa-mariense conhecida naquela região colonial. Iniciou, então, uma contínua migração de famílias desde as antigas colônias para Santa Maria, mesmo durante a Guerra dos Farrapos (1835-1845), que se tornou mais intensa após o conflito.

Em meados do século XIX, era muito marcante a presença germânica em Santa Maria. Isso levou BELÉM (1933) a escrever que, na época, a localidade parecia “fundada por alemães, em razão dos nomes germânicos que ostentavam as tabuletas e letreiros de todos os estabelecimentos comerciais e oficinas.”
A maioria dos alemães professava a religião evangélica luterana e, durante as mais de três décadas que antecederam a fundação da Comunidade Evangélica Alemã de Santa Maria, eles socorreram-se dos ofícios da Igreja Católica para celebrar seus casamentos e batismos. Sua fé cristã e seus costumes os levavam a legitimar suas famílias segundo a tradição religiosa.
Peter Cassel - Tela de H. Calgan 1890
acervo: Casa de Memória Edmundo Cardoso
Em 1860, os alemães luteranos, sob a liderança do alfaiate Peter Cassel, obtiveram do governo provincial uma área de pouco menos de 2.000 m² para instalar o Cemitério Evangélico, que, no início dos anos 1940, foi incorporado ao Cemitério Municipal.
A concessão da área, seis anos antes de os peticionários se organizarem em uma Comunidade, revela a existência, havia algum tempo, de um grupo unido e com iniciativas tendo à frente lideranças atuantes e influentes. 
Mantinham uma casa de reuniões, em local não identificado, que deveria servir como casa de oração e para celebrações, quando, esporadicamente, chegava à localidade algum pastor visitante.
 Um desses pastores foi Erdmann Georg Richard Ernst Wolfram que, durante seu pastorado em Santa Cruz, realizou visitas periódicas para dar assistência espiritual aos evangélicos santa-marienses. Segundo MÜLLER (1986), em uma visita a Santa Maria, em 1853, o Pastor Wolfram participou de uma tentativa de fundação da Comunidade. Embora não tenha se efetivado, a intenção revela ações nesse sentido.
Fundação
Pastor Borchard celebrou
o culto no dia da fundação
Em 1866, havia em Santa Maria um grande número de alemães e descendentes, conseqüente da contínua migração, desde as antigas colônias, iniciada 35 anos antes, e de imigrantes chegados diretamente à vila. Na fundação da Comunidade Evangélica, uniram-se os alemães luteranos da vila santa-mariense e um pequeno número da colônia alemã do Pinhal (Itaara), assentada nove anos antes. Segundo o Pastor KOPP (1914), havia 105 sócios na data da fundação da Comunidade. Referia-se aos sócios contribuintes, na maioria chefes de família, o que permite supor um total próximo de 400 pessoas, número relevante quando viviam menos de 6.000 habitantes em todo o Município.
O dia da fundação, 8.4.1866, era domingo, e o culto foi celebrado, na casa de reuniões da Comunidade, pelo Pastor Dr. Georg Hermann Borchard, pároco de São Leopoldo. Enviado ao Brasil pelo Conselho Superior Eclesiástico de Berlim, em 1864, o Pastor Borchard era a maior autoridade da Igreja Evangélica no sul do país.

Documento fundamental
Em pesquisa no Arquivo Histórico do RGS, em Porto Alegre, em 1996, encontramos o registro da ata de eleição do Pastor Hugo Alexander Klein. Esse registro é a prova documental irrefutável da data de fundação, também afirmada por KOPP (1914).
Wilhelm Fischer, o famoso boticário
alemão, foi o 1º Presidente
Trata-se de documento único, de importância fundamental para a história da Comunidade, tendo em vista a destruição, durante a Segunda Guerra Mundial, de toda a documentação da fundação e das sete décadas seguintes. Conhecida na cidade como a “igreja dos alemães”, o templo e a casa pastoral foram atacados, em 19 de agosto de 1942, em decorrência dos movimentos antigermânicos. Toda a documentação registral referente a batismos, confirmações, casamentos e óbitos, a biblioteca e outros documentos foram queimados na via pública. Foi assim cometido um crime contra a memória local, transformando em cinzas 76 anos de história.
A ata de eleição do Pastor Klein revela a primeira diretoria da Comunidade Evangélica Alemã de Santa Maria, quando cita que aquele “diploma vai  assinado  pelo  Presidente  e  os  mais  Mesarios.  Santa  Maria,  8  de  Abril  de  1866. – Guilherme Fischer, Presidente – Theodoro Poettcke, Secretario – Heinrich Eggers – Philipp  Schirmer – Abraham Cassel –  João Heinrich Drustz.” (na verdade Druck)
1º sinete da Comunidade e assinatura
do Pastor Klein, no certificado de Con-
firmação de Peter Falkenberg, em 14.4.1867
Mesário era o membro da mesa ou seja, da diretoria de uma associação. Se para a eleição do Pastor já existia a mesa, citando presidente, secretário e demais dirigentes, é porque essa diretoria já fora eleita, certamente na primeira parte da mesma assembléia.
A ata foi transcrita na Secretaria do Governo da Província, em Porto Alegre, com o fim específico de obter o registro do Pastor. Atendia, assim, a Lei no 1.144 de 1861, regulamentada pelo Decreto do Imperador D. Pedro II, no 3069, de 17.4.1863, que dispunha sobre o registro civil dos não-católicos. Estabelecia as condições para que “pastores das religiões toleradas” pudessem praticar seus ofícios religiosos, “susceptíveis de produzir efeitos civis.”
A citada ata é também valiosa porque revela os principais líderes, na época da fundação, conduzidos à direção da Comunidade. 
Desde a esquerda: Philipp Jacob Schirmer e Abraham Cassel, diretores. Johann Heinrich Druck, tesoureiro.
______________________
Fontes:
Arquivo pessoal.
BELÉM, João. História do Município de Santa Maria. Porto Alegre: Selbach, 1933.
BRENNER, José Antonio. “Os Primórdios da Comunidade Evangélica Alemã de Santa Maria”. Revista do Inst. Histórico e Geográfico de S.Maria. Nº 6, 1999.
KOPP, Paul Friedrich. “Chronica da Parochia Evangelica Allemã de Santa Maria”. Revista Commemorativa do Centenario de Santa Maria, em 1914
MÜLLER, Armindo L. “O começo da Igreja Evangelica no Vale do Rio Pardo”. Simpósio de História da Igreja. São Leopoldo: Rotermund S.A./Editora Sinodal, 1986.