domingo, 29 de janeiro de 2017

Edmundo Cardoso – 100 anos
O dia de hoje, 29 de janeiro de 2017, marca o centenário do nascimento de Edmundo Cardoso, um ilustre santa-mariense.
Ele nasceu em 29 de janeiro de 1917, filho de Etelvino Cardoso e de Regina Diehl Cardoso. O pai era tipógrafo-chefe do jornal Diário do Interior, instalado desde dezembro de 1915, no prédio que fora do Theatro Treze de Maio. A residência era contígua ao prédio do Diário do Interior, e o menino Edmundo, desde cedo, teve convivência com as atividades do jornal, onde começou a trabalhar aos 15 anos de idade, exercendo depois várias funções até seu fechamento, em 1939.
Edmundo Cardoso exerceu várias atividades no âmbito sociocultural da cidade: fundador da sociedade literária Atheneu Graça Aranha, do primeiro Centro Cultural, do Clube de Inglês e do primeiro Clube de Cinema, participou também da fundação da União da Família Forense em Santa Maria e da Associação dos Funcionários da Justiça do Rio Grande do Sul, criada em 1969, tendo sido seu secretário e presidente.
Mas o teatro foi a arte que mais o atraiu, participando, desde muito jovem, de grupos de teatro amador. Tinha 21 anos quando atuou na peça Na Bocca do Monte, escrita por Rubens Belém, caracterizada pela criação de tipos e situações de épocas da cidade, com sátira social - a chamada comédia de costumes. A estreia ocorreu em 18 de novembro de 1938, no Cine Independência, e teve muito sucesso, sendo reapresentada mais três vezes.
Trecho da notícia no Diario do Interior, edição de sábado, 5.11.1938, 1ª pág.
Hemeroteca do Arquivo Histórico Municipal de Santa Maria

A comédia continha danças, cujo corpo de baile era ensaiado pela professora Edna Mey Budin. Esse convívio de ensaios e apresentações certamente aproximou os jovens; Edmundo e Edna casaram em 1943.
Edmundo Cardoso e Edna Mey Budin Cardoso, falecida em 1979. [acervo CMEC]

Escola de Teatro Lepoldo Fróes
Naquele mesmo ano de 1943, com Edna e outros atores amadores, Edmundo Cardoso funda a Escola de Teatro Leopoldo Fróes, homenageando, na denominação, o ator brasileiro reconhecido como de maior expressão, nas primeiras décadas do século XX. A Escola, que estreou em 24.4.1944, com a comédia Deus lhe pague, de Joracy Camargo, atuou durante 40 anos em Santa Maria e em outras cidades do interior, como Pelotas, Cachoeira do Sul, Santa Cruz do Sul, Alegrete e São Pedro do Sul. Em Porto Alegre, participou de três temporadas teatrais, no Theatro São Pedro, nos anos 50 e 60, um acontecimento inédito para um grupo de teatro amador do interior.
Em 2003, a Câmara Municipal de Vereadores de Santa Maria, pelo Decreto Legislativo nº04/2003, criou a Medalha de Mérito Teatral Edmundo Cardoso. A distinção, concedida a pessoas ou entidades que se destacam em favor do teatro no município, foi assim denominada em reconhecimento à produtiva trajetória, por mais de quatro décadas, do teatrólogo santa-mariense.
Edmundo com Therezinha de Jesus Pires Santos, com quem casou em 1985, em segundas núpcias. A foto registra a presença do casal em AB-Galeria de Arte, na vernissage de uma exposição, em 11.9.1986, organizada por Antonieta Brenner. A Prof.ª Therezinha é coordenadora da Casa de Memória Edmundo Cardoso. [foto: J.A.Brenner]

Atividades literárias
Edmundo foi cronista e colaborador dos jornais A Razão, O Expresso, Diário do Estado e Correio do Povo. Foi o organizador do livro USM-A nova Universidade e Coletânea das Leis Municipais de Santa Maria 1892-1940 (9 vol.). Publicou Um momento da vida do Município de Santa Maria, ref. ao 3º aniversário do Estado Novo, e História da Comarca de Santa Maria 1878-1978.
Foi eleito membro da Academia Rio-Grandense de Letras, em 1976.
Patrono da Cadeira nº 24 da Academia Santa-Mariense de Letras-ASL, Edmundo Cardoso foi tema do Sarau Literário dessa Academia, em 7.11.2016.

Casa de Memória Edmundo Cardoso
Gilda May Cardoso Santos
coord. substituta da Casa de Memória.
Além das atividades cênicas, outra faceta de Edmundo que deixou um importante legado cultural, foi o colecionamento de bens materiais que interessam à memória da cidade. Desde jovem e durante toda sua vida, ele guardou livros, revistas, jornais, documentos, fotografias e objetos que compõem o riquíssimo acervo da Casa de Memória Edmundo Cardoso-CMEC. Essa instituição foi criada em 2002, por sua viúva, Therezinha de Jesus Pires Santos, e por sua filha, Gilda May Cardoso Santos, logo após a morte do patrono, para cumprir sua vontade, homenageá-lo, consolidar e ampliar sua obra.
Associação dos Amigos
Em 24.4.2015, foi fundada a Associação dos Amigos da Casa de Memória Edmundo Cardoso-AACMEC, para suplementação de carências administrativas, técnicas e culturais da CMEC. Entre outras ações, a Associação registra, através de lei de incentivo à cultura, a aquisição de equipamentos para o laboratório de digitalização já instalado, onde estão sendo digitalizados antigos jornais do acervo.
Casa de Memória Edmundo Cardoso
foto J.A.Brenner
A sede é a própria Casa de Memória, na Rua Pinheiro Machado nº 2712, um prédio centenário construído em 1911 para residência de Constantino Gomes. Em 1944, Edmundo comprou a casa para moradia de sua família, onde, ao longo de quase 58 anos, ampliou seu acervo e onde viveu até seus últimos dias.
Homenagens
Feira do Livro
Em 2001, Edmundo Cardoso foi escolhido Patrono da Feira do Livro de Santa Maria, a mais valiosa homenagem literária da cidade. Encontrava-se então muito doente e faleceu no final do ano seguinte, em 5.12.2002, um mês antes de completar 86 anos.
Logradouro
Herma de Leopoldo Fróes,
há anos desaprumada.
foto J.A.Brenner 24.7.2013
A lei municipal 4669, de 2003, denominou "Largo Edmundo Cardoso" o logradouro em frente ao Theatro Treze de Maio, no lado leste da Praça Saldanha Marinho. Nesse espaço, por ocasião do jubileu de prata da Escola de Teatro Leopoldo Fróes, em 1968, Edmundo e demais dirigentes promveram a instalação da herma do patrono. O monumento em bronze e granito, doado pelo empresário Salvador Isaia, encontra-se há anos em progressiva inclinação, por ação das raízes de uma árvore indevidamente plantada a curta distância. Poderá tombar devido a uma "raiz iconoclasta", como adjetivou Antonio Isaia, referindo-se a uma caso idêntico, ocorrido com o monumento ao Cel. Niederauer.
Visita
Na manhã deste domingo, data do centenário de Edmundo Cardoso, familiares e associados da AACMEC visitaram  seu jazigo, quando foram proferidas palavras de saudade, afeto e reconhecimento. As pessoa presentes colocaram rosas nas floreiras do jazigo.

Um documento epigráfico, afixado no túmulo, reproduz  um trecho do discurso de posse de Edmundo Cardoso, em 1976, na Academia Rio-Grandense de Letras, na cadeira nº 28, que tem João Belém como patrono. Revela o intenso amor de Edmundo por sua terra natal, que o tornou o valoroso "guardião de memórias" de Santa Maria.

  [foto Gaspar Miotto]

"Pertenço à minha cidade e ela me pertence. De tal modo somos unidos e nos compreendemos, e de tal jeito nos amamos, que tudo o que faço, tudo o que penso, tudo o que sonho está ligado,  docemente ligado à minha Santa Maria da Boca do Monte."


sábado, 7 de janeiro de 2017

Carmen Paz - campeã brasileira de tênis



Carmen Brenner Paz
   Carmen Brenner Paz, minha prima-irmã, completa hoje 94 anos de idade.
   A maior glória do passado do tênis santa-mariense, Carmen Brenner Paz, nasceu em Santa Maria, em 7 de janeiro de 1923. Desde a primeira infância, seu ambiente familiar era ligado ao tênis. Seu pai, o cirurgião-dentista Altino de Figueiredo Paz, figurava entre os primeiros sócios homens do Avenida Tênis Clube-A.T.C., no ano de fundação, em 1917, então na Avenida Rio Branco. 
Quando o clube estava na Praça da República, onde hoje está o Corpo de Bombeiros, sua mãe, Edith Brenner Paz, praticava o esporte, e a menina Carmen servia-lhe de boleira, no início dos anos 30. Seus três irmãos eram hábeis tenistas. O mais velho, Flávio Paz, aos 15 anos, em 1933, era chamado de “Menino de Ouro” do tênis. Naquele mesmo ano, seu tio Ennio Brenner – meu pai – tornara-se o campeão do Avenida Tênis Clube. 
Da esquerda: Arthur, Carlos Horácio,
Carmen e Flávio Paz.

   Quando crianças, Carmen e seus irmãos improvisavam, no quintal de sua casa, uma rede feita com sacos e jogavam tênis com raquetes de madeira. Com 15 anos, em 1938, ela associou-se ao Avenida Tênis Clube. Após pouco mais de um ano jogando tênis com uma raquete de verdade, Carmen foi inscrita no Torneio Aberto de Tênis, realizado pela Sociedade Juvenil, em Porto Alegre, em junho de 1939. Tinha 16 anos e sagrou-se a campeã do torneio. Foi o primeiro título da gloriosa carreira tenística de Carmen Paz. Jamais recebeu treinamento de técnicos profissionais; seu principal treinador era seu tio Ennio Brenner, campeão do A.T.C.(1933-40). 
Suas qualidades eram inatas, como eram em vários tenistas de sua família, certamente por influência genética: Além do lado materno, Brenner, sua tia Aracy de Figueiredo Paz foi a primeira campeã de A.T.C., em 1920.. 
Atleta de grande fibra, dotada de pertinácia e força de vontade,  dedicava-se intensamente nos jogos, mesmo em recreação. De temperamento firme e enérgico, infundia essa energia no seu belo estilo de jogo incisivo e harmonioso. Agia com modéstia fora das quadras, mas transformava-se ao empunhar a raquete, demonstrando vigor e entusiasmo, na época excepcionais numa atleta mulher. Sua atitude era impecável, mesmo nos lances mais infelizes, quando comportava-se de forma exemplar.
A Gazeta Esportiva de Curitiba, edição de 25.8.1953, noticia a conquista de Carmen.


 Entre seus incontáveis títulos e conquistas, alguns merecem destaque especial.
Venceu por mais de 10 anos consecutivos o Campeonato Aberto do Moinhos de Vento, em Porto Alegre, a partir de 1945.  Foi campeã individual do Estado, por vários anos, sagrando-se Penta-campeã Estadual de Tênis, em 1953.  Em 1949, tornou-se Campeã Brasileira por equipe.  No ano seguinte, 1950, conquistou o maior título individual de tênis no país: Campeã Brasileira.  Não competiu em 1952, mas repetiu a façanha em 1953: Bicampeã Brasileira de Tênis.
As notícias então destacavam que Carmen Paz era indiscutivelmente a atleta que maiores e mais notáveis glórias esportivas havia trazido para Santa Maria.
A grande tenista do Avenida Tênis Clube conquistara a totalidade dos títulos disputados em Santa Maria, no Estado e no País, tendo ainda, naquele ano, conquistado, pela segunda vez, o título máximo no certame brasileiro de tênis.
Carmen Brenner Paz, em 1955, transferiu-se, com sua família para Porto Alegre.
Em 1986, o Avenida Tênis Clube, por iniciativa de seu presidente, Roberto Bisogno, prestou homenagem à sua grande atleta, inscrita em placa de bronze afixada em uma de suas quadras.

Nos 150 anos de emancipação política de Santa Maria, em 2008, Carmen foi agraciada com a medalha do "Mérito Esportivo".